Tendências para o Mercado Fitness Tradicional e Conectado

Publicado em 17/03/21 por William Koga.

Em 2020, a Peloton, empresa de tecnologia em produtos fitness, que comercializa equipamentos de ginástica para serem utilizados em casa, combinados com aplicativos de conectividade e aulas online (que chegou a 4,4 milhões de usuários cadastrados), apresentou um forte ciclo de crescimento e as suas ações chegaram a valorizar 500% no ano passado.

Neste ano, os seus papéis começam a sofrer com uma correção, motivada tanto por uma preocupação, de curto prazo, dos investidores com relação à capacidade operacional da empresa atender a demanda de seus atuais clientes como, de longo prazo, demonstrando incerteza sobre a sustentabilidade do desempenho da companhia em um ambiente pós-pandemia.

O segmento tradicional de academias de ginástica e centros esportivos vem sofrendo com restrições a ele determinadas como medidas para conter a disseminação do COVID-19. Ao mesmo tempo, já surgem opiniões de que a prática de atividades físicas pode reduzir a prevalência de hospitalizações por COVID-19[1]. Em meio a esse, aparente, paradoxo, as alternativas de treinos online dispararam e ganharam força em 2020.

Para entender mais sobre o mercado fitness nesse contexto, William Koga, sócio e cofundador da ICE Capital, conversou com Raphael Bonatto, curitibano que completou duas vezes (em 2010 e 2020) o desafio de correr 27 maratonas em 27 dias consecutivos nas 27 capitais brasileiras.

 

Você acha que a pandemia mudou a forma como as pessoas encaram o esporte e os exercícios físicos?

Acredito que sim. O exercício físico é importante no atual cenário porque faz com que as pessoas trabalhem não só a sua parte física como também a parte mental. O próprio Governo do Distrito Federal, recentemente, decidiu manter as academias de ginástica e os centros esportivos abertos, evitando as atividades coletivas, neste último lockdown [conforme o Decreto nº 41.869 publicado em edição extra no Diário Oficial do Distrito Federal do dia 5 de março de 2021].

Em várias cidades e estados do Brasil, o nosso setor já é classificado como serviço essencial. E é importante conscientizar a sociedade, especialmente a classe política, sobre a importância da prática de exercícios, que contribui para aumentar a saúde da população e diminui a incidência de outras doenças, do número de remédios que são utilizados, diminui o número de internações, aumenta a imunidade, diminui a obesidade, evita doenças como diabetes, hipertensão, AVC, síndrome metabólica. Enfim, são inúmeros benefícios. Isso deveria ser cada vez mais colocado em pauta nos meios de comunicação e levado muito a sério como política de saúde pública. Estima-se que, pelo menos um quarto, das mortes poderiam ser evitadas pela prática de, pelo menos três vezes por semana, de exercícios moderados de 30 minutos. Então veja como é impressionante a força que o exercício promove na saúde das pessoal.

Tomara que após o controle da pandemia permaneça essa conscientização sobre a importância do esporte para a saúde.

 

Como você acha que será o comportamento das pessoas depois que tivermos um controle da pandemia e a liberação completa de academias e parques?

Se as pessoas tomarem consciência, como mencionei anteriormente, com a pandemia controlada e a vacina aplicada na maioria da população, as pessoas vão procurar cada vez mais as academias de ginástica e os centros esportivos, parques e assessorias esportivas. Enfim, se movimentar.

Veja, não sou eu que falo, os números que falam, a maioria das pessoas que infelizmente vieram a falecer tinham também outras comorbidades, e, dentre elas, muitas relacionadas a obesidade (diabetes, hipertensão, colesterol alto). O exercício físico pode salvar a vida das pessoas enquanto nós não tivermos uma vacina.

Por essa razão, defendo que não devem ser fechadas as academias, estamos seguindo mais de 30 protocolos de segurança e não tivemos nenhum caso de surto dentro da nossa academia de ginástica. Existe o risco, sim. Mas, as academias não representam focos de disseminação de COVID.

Superada a pandemia e com a consciência quanto a valorização da saúde, as pessoas com certeza vão procurar as academias e centros esportivos.

 

Durante o fechamento temporário das academias houve um crescimento no número de aplicativos e sites oferecendo aulas online para as pessoas se exercitarem em casa. Essa é uma tendência que deve se confirmar em um momento pós-pandemia?

O mercado online cresceu muito é uma tendência que deve se confirmar, sim. Inclusive, a IHRSA (International Health, Racquet & Sportsclub Association) mostra que a tendência número um para 2021 são as atividades fitness online, dentro de casa.

Profissionais competentes que tenham habilidade de transferir o conhecimento para o ambiente digital e lidar com marketing e suas ferramentas devem colher bons frutos. Conheço profissionais que já estão faturando 10 vezes mais se comparado com o período em que davam aulas presenciais exclusivamente.

Esse é um processo natural de digitalização que já vinha acontecendo nos últimos 15 anos e que foi acelerado pela pandemia.

[1]Sufficient physical activity levels are associated with a lower prevalence of COVID-19 related hospitalizations. Performing at least 150 minutes a week of moderate-intensity, or 75 minutes a week of vigorous-intensity physical activity reduces this prevalence by 34,3%.”

Disponível em: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.14.20212704v1.full.pdf


Compartilhe: